Segundo
Benedito C. Silva, “Sem luz não existe cor...” Penso no
contraste entre o claro e o escuro, e quanto representa as tintas da existência
como identificação da figura de ficção, com capacidade de inventar ao refletir
as sensações.
Vemos luz no
final do túnel? Quantas noites, passamos em claro? A
vivência, a maturidade acrescenta clareza às nossas incertezas? Quanto vale um
raio de sol? Nas palavras de Lêdo Ivo, “... Paramos e esperamos / sem
qualquer esperança. / E nós mesmos morremos / como o dia sereno / tornado
escuridão.”
A vida é
assim, não tem receita, parece ser feita da mistura de tons claros e escuros,
onde cada história tem a sua luminosidade. A combinação é que intensifica para
mais ou para menos. As palavras instigantes são versos entre luzes e sombras. A
forma poética se inspira na natureza, despertando em nós a paixão pela
literatura. Como nos romances, A Maçã no Escuro, de Clarice Lispector
– que é um romance dividido em três partes em que trata da
tentativa de buscar a si mesmo, o outro e revela os sentimentos, e Dentes ao
Sol, de Ignácio Loyola Brandão, ”Dentes ao sol // E o escuro
momento / Do girassol no muro / enlouquecendo”.
Claro e
escuro combinam com o dia e a noite, são sombras que marcam e definem o homem.
A luz representa a ação, quando refletida na sombra ao iluminar a paisagem do
tempo. Transformamos a luz em coragem e alegria, para a vida seguir sem
tormentos, como estilo para cada escuridão. Assim, também nos reflexos do que
Mário de Sá-Carneiro escreveu, “Manhã tão forte / que anoiteceu”; ou
no Luz Poética, de Benedito C. Filho, “... A dor que
sofro arremata a vida / Que luz do dia enegrece / E a noite deita para me
consolar...”; ou em Uma Luz no Chão, de Ferreira
Gullar e, ainda, n’As Solas do Sol, de Carpinejar.
No reflexo
da luz fabricamos nossas imagens e percebemos as sombras ao nos revelarmos
através da palavra, como Pedra de Sol, de Octávio Paz, onde
o autor descreve o tempo como recomeço e esperança.
A
luminosidade do escuro é jogo de clarificação das artes tentando tornar
transparentes os gestos que são a nossa imanência transcendendo através da
palavra, justificando a sua elucidação, como em Álvaro Moreyra, “Palavra
é claridade. O gesto é sombra. Mas o gesto que nos irmana às ondas, às asas, às
nuvens...”.
A cor do
escuro são tons de resistência, mistérios que nos rodeiam, sobre o qual só
podemos ver através da claridade, no caso, nossas contradições. Neste sentido o
espaço do homem é como o ser existencial, iluminador.
Mas, também pode ser o caminho da transparência, isto é, precisamos respeitar e
confiar nas pessoas.
Vivemos numa
época em que o tempo é medido pelas necessidades, onde a informação, o consumo
e a escolha vão além da perspectiva, além do horizonte. Por isso, clarear a situação
e transformar a vida de sombras em luzes é ter consciência de que tudo o que
gostaríamos de realizar não cabe no nosso dia. Então, o dia escurece e
precisamos fazer a escolha, nos permitindo errar. O desafio está em exercitar
nossa flexibilidade para contornar a luminosidade do escuro e desvelar o
segredo do homem como ser existente que se associa e convive,
quando segue a luz da sensibilidade: “Cores, verdades / Frias e
quentes.../ dores e alegrias, / tristezas e sabedorias”, entrelaçando
o sonho.
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Tânia Du Bois, natural de Sarandi, RS, residente em Balneário Camboriú,
SC. Pedagoga. Articulista, cronista e resenhista. Colunista literária do Jornal
Correio do Município, Itapema, SC e da A Revista SC. Colaboradora do Projeto
Passo Fundo.