sábado, 6 de junho de 2015

A LUMINOSIDADE DO ESCURO [Tânia Du Bois]



Segundo Benedito C. Silva, “Sem luz não existe cor...” Penso no contraste entre o claro e o escuro, e quanto representa as tintas da existência como identificação da figura de ficção, com capacidade de inventar ao refletir as sensações.

Vemos luz no final do túnel?  Quantas noites, passamos em claro? A vivência, a maturidade acrescenta clareza às nossas incertezas? Quanto vale um raio de sol? Nas palavras de Lêdo Ivo, “... Paramos e esperamos / sem qualquer esperança. / E nós mesmos morremos / como o dia sereno / tornado escuridão.”

A vida é assim, não tem receita, parece ser feita da mistura de tons claros e escuros, onde cada história tem a sua luminosidade. A combinação é que intensifica para mais ou para menos. As palavras instigantes são versos entre luzes e sombras. A forma poética se inspira na natureza, despertando em nós a paixão pela literatura. Como nos romances, A Maçã no Escuro, de Clarice Lispector – que é um romance dividido em três partes em que trata da tentativa de buscar a si mesmo, o outro e revela os sentimentos, e Dentes ao Sol, de Ignácio Loyola Brandão, ”Dentes ao sol // E o escuro momento / Do girassol no muro / enlouquecendo”.

Claro e escuro combinam com o dia e a noite, são sombras que marcam e definem o homem. A luz representa a ação, quando refletida na sombra ao iluminar a paisagem do tempo. Transformamos a luz em coragem e alegria, para a vida seguir sem tormentos, como estilo para cada escuridão. Assim, também nos reflexos do que Mário de Sá-Carneiro escreveu, “Manhã tão forte / que anoiteceu”; ou no Luz Poética, de Benedito C. Filho, “... A dor que sofro arremata a vida / Que luz do dia enegrece / E a noite deita para me consolar...”; ou em Uma Luz no Chão, de Ferreira Gullar e, ainda, n’As Solas do Sol, de Carpinejar.

No reflexo da luz fabricamos nossas imagens e percebemos as sombras ao nos revelarmos através da palavra, como Pedra de Sol, de Octávio Pazonde o autor descreve o tempo como recomeço e esperança.

A luminosidade do escuro é jogo de clarificação das artes tentando tornar transparentes os gestos que são a nossa imanência transcendendo através da palavra, justificando a sua elucidação, como em Álvaro Moreyra, “Palavra é claridade. O gesto é sombra. Mas o gesto que nos irmana às ondas, às asas, às nuvens...”.

A cor do escuro são tons de resistência, mistérios que nos rodeiam, sobre o qual só podemos ver através da claridade, no caso, nossas contradições. Neste sentido o espaço do homem é como o ser existencial, iluminador. Mas, também pode ser o caminho da transparência, isto é, precisamos respeitar e confiar nas pessoas.

Vivemos numa época em que o tempo é medido pelas necessidades, onde a informação, o consumo e a escolha vão além da perspectiva, além do horizonte. Por isso, clarear a situação e transformar a vida de sombras em luzes é ter consciência de que tudo o que gostaríamos de realizar não cabe no nosso dia. Então, o dia escurece e precisamos fazer a escolha, nos permitindo errar. O desafio está em exercitar nossa flexibilidade para contornar a luminosidade do escuro e desvelar o segredo do homem como ser existente que se associa e convive, quando segue a luz da sensibilidade: “Cores, verdades / Frias e quentes.../ dores e alegrias, / tristezas e sabedorias”, entrelaçando o sonho.


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Tânia Du Bois, natural de Sarandi, RS, residente em Balneário Camboriú, SC. Pedagoga. Articulista, cronista e resenhista. Colunista literária do Jornal Correio do Município, Itapema, SC e da A Revista SC. Colaboradora do Projeto Passo Fundo.



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