"Exit #7" - Hani Zurob |
“...Tuas
mãos não trazem nada. /
Vazias, elas te ajudam a caminhar por entre ruínas..”
Vazias, elas te ajudam a caminhar por entre ruínas..”
(Vera Casa Nova)
Tarde de domingo. Do mar, escuto o que diz em voz alta. A vida senta-se,
desconfiada do mundo, ao perceber que a nossa história não está sendo ouvida e
pouco preservada e que as palavras caem como chuvas em chamas: as ruínas
culturais, emocionais e materiais. Segundo Tatiana T. Coelho, “vivemos
de ruínas... / por outrem descobrimos os que fomos, / buscamos encontrar o
caminho e nos deciframos.”.
Ruínas, para mim, têm vários sentidos e um deles é o fim dos sonhos, das
conquistas do equilíbrio pelo melhor caminho. Fica presente apenas o nosso
medo, civilizatório. É sentimento difícil de se admitir, mesmo que, em algum
momento, já tenhamos tido gestos em que“arruinamos a nossa vida”, como ajudar a alcançar as ruínas, desestabilizando até
a mãe natureza; como mostra Jorge Tufic, “Passei anos a olhar / para as coisas
que se destroem. / Muros de pedra / casas antigas, alpendres estrangulado...//
Nem que o lugar / se tomasse de ruínas...” Ao constatar que a vida não é satisfatória, alerto que a boa qualidade
de vida pode significar libertação.
Pedro Du Bois, em seu livro O Coletor de Ruínas, mostra que é possível criar para o presente e para o
imprevisível olhar o que se esconde atrás do ponto cego, sobre a realidade e a
percepção do mundo, como no poema: “sobre a terra / queimada /
brota a planta / em seqüência // (sustenta a fome / dos animais criados) //
sobre a terra / insustentável / o vento trabalha sua parte.”
Davi Arrigucci Jr., em seu livro O Cacto e as Ruínas, de crítica literária, analisa dois poemas: O
Cacto, de Manuel Bandeira e As
Ruínas de Selinunte, de Murilo Mendes. As
Ruínas de Murilo mostra a desordem das
pedras caídas e a destruição, ”Sobre o mar em linha azul, as
ruínas / severas tombando //... Para a catástrofe, em busca / Da sobrevivência,
nascemos.”
A literatura é uma das maneiras de ver o passado e, ao conviver com ele,
diminuir as “ruínas do dia-a-dia”. Nesse caso, vale avaliar o que realmente é
importante para nós. Quais as tradições que gostaríamos de manter e quais
histórias queremos contar aos nossos netos. Também, devemos pensar como reagir
diante das “ruínas”. Como evitar que elas aconteçam? Álvaro Pacheco, escreveu,
“... Pois Camões cantava a glória / e eu canto o desespero /
deste tempo poluído.” E Tatiana T.
Coelho reflete: “Para onde foram os sonhos? / Ruínas levadas
pela correnteza da vida.”
Os poetas declaram, como em Pedro Du Bois, “Fomos a
descoberta – passo a passo – e somos o encoberto ser insatisfeito em
necessidades. Alguns colecionam, outros coletam ruínas. Com tal perspectiva, só nos resta o tempo como desafio para evitarmos a
“ruínas”, como em Octávio Paz, “La irrealidad de lo mirado / da
realidad a la mirada.” (A realidade do visto / dá à vista realidade)
Vida e realidade caminham juntas nas diversas formas de elevar o nosso mundo a uma nova dimensão, entre elas, as artes e os
gestos, que nos levam a pensar em como evitar a construção do mosaico de
ruínas.
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Tânia Du Bois, natural de Sarandi, RS, residente em Balneário Camboriú,
SC. Pedagoga. Articulista, cronista e resenhista. Colunista literária do Jornal
Correio do Município, Itapema, SC e da A Revista SC. Colaboradora do Projeto
Passo Fundo.