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Forest With Yellow Leaves - Joseph Lee |
Falando assim de modo simples, sem maiores rigores,
entende-se por barbárie a condição oposta à de civilização, esta última
entendida como real progresso e desenvolvimento humanos. A palavra, em si, remete
à ideia de bárbaro, que vem a significar algo selvagem, bruto, não lapidado
conforme uma cultura de valores e práticas bem trabalhados e a serviço do bem comum. E, a meu ver, ao menos em
parte já estamos caminhando para estágios mais agudos desta maneira de ser e
estar no mundo, a barbárie.
Ainda, a meu ver, considero que o antídoto para se
evitar a barbárie é investir em humanismo, o que inclui uma postura idealista,
mas não ingênua. E por idealismo, e ainda falando de modo simples (não me
refiro ao termo como a corrente filosófica que recebe esta designação), podemos
entender isto como uma visão de mundo que ouse um mínimo de otimismo e a crença no melhor
potencial do ser humano, já que, sem isso, sem um pouco de sonho, não é possível
desencavar em nós o nosso melhor. Somos seres de futuro, portanto de esperança.
E esta esperança, por alquebrada que esteja, ainda é algo a nos mover num
sentido bom, assim espero.
Uma das formas de se investir em humanismo, para
nos atermos ao fato de que esse texto está postado numa revista literária digital, é o
amor aos livros, às constantes leituras, isto como investimento num processo de
educação que nos proporcione luzes interessantes sobre problemas de toda ordem,
a começar pelo desencanto que todos nós, uns mais, outros menos, trazemos
diante da atualidade. E leitura também como uma forma de prazer e realização. E, pensando nisso,
pergunto-me se há nos ambientes em que vivemos clubes de leitura. Há? Quantas vezes reunimos pessoas com esta
finalidade? Não estou falando de políticas públicas na área cultural, pois
nossos gestores, em sua maioria, pouco ou nada se interessam pelo assunto,
apesar dos milhões que lhes passam pelas mãos. Por
gestores, e em nível de município, entenda-se não só prefeitos(as), mas,
também, os(as) nossos(as) secretários(as) de cultura, estes últimos escolhidos
mais de acordo com as conveniências dos chamados “esquemas políticos” dos(as)
prefeitos(as) que por questões meritocráticas (quantas vezes padeceremos por
conta dessas situações?). E, nessa questão, dados o desinteresse e a
desinformação da maioria do povo, além de uma cultura política de baixíssimo nível, a
tendência é piorar, pois não há uma pressão diante daqueles que, no poder público, deveriam agir com mais eficiência e sensibilidade.
Refiro-me, quando falo em investir em humanismo, à força dos cidadãos
que, munidos de suficiente consciência e paixão, se propõem a viver e a
multiplicar espaços que privilegiem o encontro de pessoas com o objeto livro e,
enfim, com a descoberta infinita de novos horizontes. E, partindo da ideia de clubes de leitores,
saiba-se, pode-se ir a outras ações, como a criação de bibliotecas itinerantes,
comunitárias, dentre outras ações.
Sei que os aborrecimentos de uma vida difícil, num
mundo a cada dia mais incompreensível, são muitos. E há os cansaços, os
desânimos, a falta de estímulo, além de uma gama infinita de distrações,
besteiróis, entretenimentos e outras realidades que conspiram contra a formação
de leitores. Também sei que não é todo mundo que se dispõe a empreender a
aventura de se tornar leitor de livros e outros subsídios, e isso acontece por puro
desinteresse, preguiça e outros motivos. Todavia, penso se ainda não há outros
idealistas por aí a procura desta conquista. Há? Quero acreditar que sim. E aqui
me lembro de, em tempos atrás, ter lido do site da Companhia das Letras algo
sobre uma ação daquela editora em relação à criação de clubes de leitura.
Pesquisando no Google, acredito que se pode encontrar tal matéria. Nela se
dizia haver já 60 clubes de leitura Brasil afora, a partir do incentivo daquela editora, o que não é pouco. E há
outros clubes que não partem, necessariamente, da ação de editoras ou
similares, mas tão somente da vontade de leitores dispostos a trocar impressões
e comentários sobre o que leem.
Clubes de leitura, bibliotecas comunitárias e
outros empreendimentos são parte do que orbita em torno do livro e do hábito de
ler. O modo como devem começar, o que fazer, a quem reunir, onde pesquisar, tudo
isso é menos importante que o princípio da ideia, que é querer que aconteça. Fazendo
isso, o mundo há de mudar? Não, que o mundo é muito vasto. Porém, o mundo de
cada participante, que terá amigos antenados com um luxo, o livro, este, sim,
vai passar por modificações. Afinal, como dito anteriormente, a luta é para que
evitemos em nós a semente da barbárie. Sei que nesta era de teimosia e muito embate, conflitos de toda ordem, muita gente simplesmente se desencanta e deixa de acreditar naquilo que é mais sutil. Mas, fato é que ainda há sonhadores entre nós.
Estou sendo idealista em excesso, ao propor aos que
aqui chegam uma reflexão sobre isso? Ou será o desencanto de alguns que já
criou raízes a mais onde poderia haver imaginação, alegria, criatividade e
descoberta? Vale pensar sobre isto, acredito.
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