Desde muito
cedo, o incentivo à leitura deve ser feito para que a pessoa construa uma
prática (uma experiência) que lhe possa ser base e caminho para toda a vida.
Não basta aprender a ler e a escrever! É preciso mais. Embora muitos, por mais
que haja incentivo, jamais venham a se tornar leitores, nosso cotidiano, na
família e na escola, não pode prescindir de livros, revistas e afins, tampouco
do universo paralelo à leitura, que é o universo próprio da curiosidade, das
conversas inteligentes, do desejo de conhecer que cada pessoa pode alimentar e,
assim, modificar para melhor sua própria vida e a vida da sociedade.
Nesse
ínterim, vale ressaltar que a leitura apenas informativa, de conteúdo mais
jornalístico e/ou científico, é apenas uma variedade de leitura, rica e
interessante, mas que não substitui nem supera a palavra poética e a
literatura. Portanto, necessário é perceber que, por mais que o mundo tenha
mudado, não podemos descartar o humanismo que nos é possível nestas artes sobre
as quais nosso olhar (nosso coração) deve se demorar um tanto mais. Aliás, em
si, a leitura de poemas, contos, romances e outras modalidades, constrói em
cada um de nós um saudável sentido de espera, de demora, de vivência
não-agoniada, algo fundamental para a nossa alma crescer de modo melhor.
Plat à décor aquatique, dynastie Qing, période Kangxi (1662-1722), fin du 17ème siècle. Musée Guimet, Paris (Créditos da imagem: Vassil) |
Penso que
melhor será à construção de um hábito e de um gosto pela leitura de poesia e de
literatura, se as crianças tiverem na escola uma educação artística integral:
música; dança; artes plásticas; teatro; audiovisual; etc. Sabemos que as artes
refinam o espírito e lhe podem dar portas que o conhecimento técnico não há de
dar. A pretensão maior dessa ideia não é fazer das pessoas artistas com
futuro, público e fama, mas fazer-lhes cidadãs melhores, mais centradas, mais
conhecedoras de seus sentimentos, de suas emoções e de um imenso arcabouço
histórico de tradições as mais diversas.
O ensino de
música nas escolas já é lei desde
2008 e não há restrições legais no sentido de impedir o ensino de
outras artes. Claro, tudo isso demanda estrutura, verbas, planejamento,
profissionais suficientemente aptos, etc. E para quem considera perda de tempo,
vale a pergunta: perder, por exemplo, para o tráfico de crack é melhor?
Entretanto,
mesmo que consideremos acerto um maior incentivo à leitura e à vivência em
diferentes artes, isso não basta. Toda essa questão carece de ir para a pauta
dos governos, especialmente dos prefeitos e de seus (suas) secretários (as) de
educação e de cultura. Não podemos, como em outras questões, esta resvale para a vala das picuinhas entre os diferentes grupos políticos que
lutam mais por hegemonia política que pelo desenvolvimento social, cultural e econômico
reais da população.
* Leia
também O OURO RÚTILO DOS CÍRCULOS SIBILINOS
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Webston Moura [editor de Kaya] é poeta, autor de Encontros imprecisos: insinuações poéticas (Imprece,
2006). Mantém o blog Arcanos Grávidos.