Tarsila, uma
gata siamesa, que conviveu conosco por alguns
dias, apaixonou-se pelo ‘gato lilás’ de Aldemir
Martins – uma reprodução da
tela que possuímos em casa.
Investiu
tudo nesta paixão, estudou sobre o artista e sua obra, incomodou a todos com o
seu canto lastimoso e noturno, gastou as unhas arranhando os telhados alheios.
Não
encontrando retorno algum desta paixão, chegou a cometer o suicídio 6 vezes,
até decidir-se a pesquisar intensamente sobre arte contemporânea.
Certa noite,
após buscar um diálogo intenso com a eternidade, ainda meio grogue e desolada,
saiu para a rua e não mais a vimos.
Soubemos,
algum tempo depois, que ela fora atropelada e tornou-se uma efêmera intervenção
urbana.
[In Móbiles, p. 30]
LUCIANO BONFIM [1971] nasceu em Crateús-CE, é professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Tem publicadas as obras: Janeiros sentimentos poéticos [poesia, 1992]; Beber água é tomar banho por dentro [poesia, 2006]; Dançando com sapatos que incomodam [contos, 2002]; Móbiles: hestórias e considerações [contos, 2007]; Aliterar versos 20/60 + alguns instantâneos [ficção/poética, 2013]. Escreveu e montou as peças: Auto do menino encantado [2002] e As mulheres cegas [2000]. Integra o grupo de teatro Permanência Provisória. Em 2010 foi selecionado pela Funarte (programa de criação literária) com o projeto Caminhos do Sol [livro e exposição fotográfica]. Tem no prelo os livros: Dispersões; As aventuras de Leôncio; e Caracol e outros poemas para crianças. [contatos: lucianogbonfim@gmail.com / http://permanenciaprovisoria.blogspot.com.br/].