Sobrevôo (2012 , acrílico, 70x70 cm) - Rudolf Rabatin |
Acarminados horizontes - À
tua porta, pronúncias que não vês da mesma forma com que vês o que os alfabetos
comuns formam. É secreta a vida por baixo da vida, linguagens e estratégias. A
rua parece sempre a mesma. O rio, o que corre atrás da casa, idem. Ao espelho,
teu rosto que apenas (e não mais que isto?) envelhece. E, entre tudo, o
mistério. A vida secreta das plantas,
por exemplo, em que te toca? ― pergunta que também me faço, quando me ponho a
ouvi-las, se assim o posso. E quem abrirá o poema de tudo, máquina viva a
habitar a essência da vida? Por isso, não o fazer desistir de nós; morar em sua
vertigem, sim. E sempre. Vieste oferecer-me a doce barbaridade de comer flores:
calêndulas; tulipas; begônias; a flor do borago. Vieste levantar minha cabeça para
ver o céu e sonhar. Vieste, na anêmona-do-mar, entregar-me o desafio de outras
pronúncias: azuis extensos; verdes dissonantes; acarminados horizontes. Da
janela, sorri-me, cidade fêmea, a canção Laís. Traz à mão o trotar de raros
cavalos e, tons acima, areias brancas de uma praia jamais encontrada senão por
secretos alfabetos.
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MENSAGEM NA GARRAFA: O universo é vasto. Todos
esses corpos que vês nos livros ou que imaginas através das ciências hão de te
ser lugares d’alma. Basta estares com a cabeça ao alto e o coração tranqüilo. Pontilhado
de luzes, estações diversas, é escuro o infinito, o desconhecido que, qual a um
arcano, também está escondido dentro de ti. Neste dia de navegação que já não me lembro ao certo a data, dei-me, por horas, a lembrar-me daquela rua em que inauguramos
as mais belas primaveras. O crepúsculo, acarminado horizonte, recebi-o de ti.
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# Leia também:
Webston Moura é o editor do blog Arcanos Grávidos, além
de co-editor de Kaya [revista de atitudes literárias]. Cearense
de Morada Nova, mora em Russas desde 1988. Por formação, é Tecnólogo de
Frutos Tropicais. Poeta, é autor de Encontros Imprecisos:
insinuações poéticas (Imprece, 2006). Com o poema "A pronúncia da
minha língua pela tua flor" e o conto "A vida carpida entre os
dentes" participou da revista PARA MAMÍFEROS (Fortaleza, Nº 3, Ano 3,
2011). Com o poema "Enquanto o muçambê delira a meus olhos"
participou da Revista do Instituto Cultural do Oeste Potiguar - ICOP (Nº 16,
setembro de 2012). Teve ainda poema publicado no projeto Trânsito de
Leituras. Aprecia teatro, desenho, boa música, além de questões
ligadas a temas como meio ambiente, sustentabilidade, dentre outros. Colaborou
tecnicamente com o blog Literatura sem
fronteiras.