A
lei é um deus por sobre as águas,
praga
sutil e eficaz.
A
lei é um primor, um engenho depurado;
põe
sobre índios o peso de hidrelétricas.
Antes,
porém, a bem de outros progressos,
põe
fazendeiros e agrotóxicos,
mineradores & etceteras.
A
lei não fala jê nem guarani
nem
coisa alguma que escute peixe,
vento
ou chão.
A
lei é cinza,
porque
seu homem
(o
que lhe ilumina)
é
branco por fora
e
impossível por dentro.
A
lei é desabitada de índios,
mas repleta de fome.
* Leia também ANTE A FLOR E A ESTRELA EXPLODIDAS DE DELÍCIAS
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* NOTA DE EXPLICAÇÃO
CIDADÃ:
Preocupa-me muito o que está acontecendo em nosso
país, especialmente porque enquanto muitos dizem termos um governo central
(federal) progressista, formado em sua base por históricos partidos de esquerda
que sempre se disseram sensíveis às causas do povo, percebemos ser para tal
governo e para seus parceiros nos negócios que os povos indígenas significam um
problema e não povos que merecem o nosso respeito e a nossa solidariedade, até
para que sejam efetivamente protegidos. Vejo apoio popular real em outras
lutas, mas nessa nem tanto. E se dependermos da consciência de muitos
“esquerdistas”, especialmente os dos partidos da base do governo federal,
estaremos condenando os povos
indígenas a um terrível destino. Como olharemos para nós mesmos depois?
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Webston Moura [editor de Kaya] é poeta,
autor de Encontros imprecisos:
insinuações poéticas (Imprece,
2006). Mantém o blog Arcanos Grávidos. E considera importante que o visitante, homem ou mulher, acesse os sítios Povos Indígenas do Brasil, Conselho Indigenista Missionário, Instituto Socioambiental (ISA), Movimento Xingu Vivo e o documento Povos Indígenas: manifesto contra os decretos de extermínio.