Sem título (Oil on canvas) – Nadir M. Garcia |
Frustrado com o imprevisível fim
de seu arrebatador caso amoroso,
Descartes tentou entender e explicar
porque ficara sozinho.
Começou, metodicamente,
duvidando de todas as causas possíveis
de ter levado àquele desfecho
(procurava com isso evitar a precipitação de
tomar como
verdade
um julgamento não muito claro e distinto).
Feito isso, passou a examinar minuciosamente cada
uma
das dificuldades,
e dividindo-as, para melhor resolvê-las, nas
menores partes
imagináveis.
Foi, como por degraus,
conduzindo a ordem de seus pensamentos das
questões
mais simples
até elevar-se e chegar às mais compostas.
Fez tantas enumerações e revisões em suas
análises
até que obtivesse a certeza de que nada omitira.
Ao fim da exaustiva análise
o pobre Descartes, olhos úmidos, continuou
confuso.
Deitou um instante.
Sentiu dor de cotovelo.
E saiu para encher a cara.
*Leia também TESTEMUNHO ACADÊMICO-POÉTICO SOBRE MANOEL DE BARROS
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Kelson
Oliveira [editor de Kaya] é poeta. Nascido e crescido
entre caramujos, brisas, areais e outras sutis vidas do rio Jaguaribe, traz em sua
escrita o voo das borboletas e o dourado do sol das tardes quentes de sua
terra. É autor de Quando as Letras Têm a Cor do Sonho [2006],Para comover borboletas [7 Letras, 2010], dentre
outros. Atualmente, faz doutorado em Ciências Sociais na Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN).