terça-feira, 16 de abril de 2013

DESCARTES E A PAIXÃO (Kelson Oliveira)



Sem título (Oil on canvas) – Nadir M. Garcia


Frustrado com o imprevisível fim
de seu arrebatador caso amoroso,
Descartes tentou entender e explicar
porque ficara sozinho.
Começou, metodicamente,
duvidando de todas as causas possíveis
de ter levado àquele desfecho
(procurava com isso evitar a precipitação de tomar como
verdade
um julgamento não muito claro e distinto).
Feito isso, passou a examinar minuciosamente cada uma
das dificuldades,
e dividindo-as, para melhor resolvê-las, nas menores partes
imagináveis.
Foi, como por degraus,
conduzindo a ordem de seus pensamentos das questões
mais simples
até elevar-se e chegar às mais compostas.
Fez tantas enumerações e revisões em suas análises
até que obtivesse a certeza de que nada omitira.
Ao fim da exaustiva análise
o pobre Descartes, olhos úmidos, continuou confuso.
Deitou um instante.
Sentiu dor de cotovelo.
E saiu para encher a cara.



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Kelson Oliveira [editor de Kaya] é poeta. Nascido e crescido entre caramujos, brisas, areais e outras sutis vidas do rio Jaguaribe, traz em sua escrita o voo das borboletas e o dourado do sol das tardes quentes de sua terra. É autor de Quando as Letras Têm a Cor do Sonho [2006],Para comover borboletas [7 Letras, 2010], dentre outros. Atualmente, faz doutorado em Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

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