terça-feira, 16 de abril de 2013

OS MOSAICOS DE W.J. SOLHA (Webston Moura)

Há uma poesia enorme, cujo deleite que nos venha a causar só é possível se a nossa alma erguer-se da poeira ordinária dos infernos e tédios cotidianos e alcançar as esferas mais criativas em que a palavra poética delira seu ouro mais aquilatado. Desta poesia, ao lê-la, não há muito o que possamos acrescentar-lhe, exceto nosso encantamento e nossa gratidão por tê-la qual objeto raro de uma terra distante, impossível mesma, menos aos navegantes que lá vão dar para trazer tal joia ao nosso encontro.

Para mim, mero mortal, assim é Marco do mundo, a que o autor, W.J. Solha, acrescentou o artigo “O” no exemplar que muito gentilmente me presenteou. Assim sendo, então direi “O Marco do mundo”.

Trata-se de um poema longo, exercício pleno de imaginação, de memórias, nexos pessoais, afetividades não-óbvias, imagens, muita arte e rigoroso trabalho. Sim, rigor, pois acredito que Solha, como feroz trabalhador de suas obras ― exigente sem, no entanto, cair numa “pura técnica” ―, empreende rigor e esforço para gerar tão vasta travessia. Seu poema é uma engenharia de belezas, teia de teias, uma casa de mil janelas que requer ser lido e relido, relido, relido, relido... E nunca se esgota. É um poema que nos empurra para a pesquisa, para lê-lo em voz alta, tentar desenhá-lo, na tentativa de, assim, conseguirmos, quem sabe, melhor compreendê-lo. Ao menos, alcançar-lhe um pouco mais a sua extrema riqueza.

Se vício ou inocência de sempre, gosto de repetir poemas em minha boca, mesmo que meu cérebro (minha razão) não esteja tão a fim de dissecá-los. E isso me ocorreu de cara com o livro de Solha, como outras vezes diante de outros poemas de outros poetas. E talvez, sem maiores métodos, o leitor deva adentrá-lo dessa forma, não sei. Fruição e êxtase. Estejamos com o poema e que ele continue sua engenharia em nós. Assim seja.

SERVIÇO:
Marco do mundo
W.J. Solha
Editora Ideia

* Leia também O TECELÃO NILTO MACIEL
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Webston Moura [editor de Kaya] é poeta, autor de Encontros imprecisos: insinuações poéticas (Imprece, 2006). Mantém o blog Arcanos Grávidos.



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