Há uma poesia enorme, cujo deleite que nos venha a causar só é possível se a nossa alma erguer-se da poeira ordinária dos infernos e tédios cotidianos e alcançar as esferas mais criativas em que a palavra poética delira seu ouro mais aquilatado. Desta poesia, ao lê-la, não há muito o que possamos acrescentar-lhe, exceto nosso encantamento e nossa gratidão por tê-la qual objeto raro de uma terra distante, impossível mesma, menos aos navegantes que lá vão dar para trazer tal joia ao nosso encontro.
Para mim, mero mortal, assim é Marco do mundo, a que o autor, W.J. Solha, acrescentou o artigo “O” no exemplar que muito gentilmente me presenteou. Assim sendo, então direi “O Marco do mundo”.
Trata-se de um poema longo, exercício pleno de imaginação, de memórias, nexos pessoais, afetividades não-óbvias, imagens, muita arte e rigoroso trabalho. Sim, rigor, pois acredito que Solha, como feroz trabalhador de suas obras ― exigente sem, no entanto, cair numa “pura técnica” ―, empreende rigor e esforço para gerar tão vasta travessia. Seu poema é uma engenharia de belezas, teia de teias, uma casa de mil janelas que requer ser lido e relido, relido, relido, relido... E nunca se esgota. É um poema que nos empurra para a pesquisa, para lê-lo em voz alta, tentar desenhá-lo, na tentativa de, assim, conseguirmos, quem sabe, melhor compreendê-lo. Ao menos, alcançar-lhe um pouco mais a sua extrema riqueza.
Se vício ou inocência de sempre, gosto de repetir poemas em minha boca, mesmo que meu cérebro (minha razão) não esteja tão a fim de dissecá-los. E isso me ocorreu de cara com o livro de Solha, como outras vezes diante de outros poemas de outros poetas. E talvez, sem maiores métodos, o leitor deva adentrá-lo dessa forma, não sei. Fruição e êxtase. Estejamos com o poema e que ele continue sua engenharia em nós. Assim seja.
Se vício ou inocência de sempre, gosto de repetir poemas em minha boca, mesmo que meu cérebro (minha razão) não esteja tão a fim de dissecá-los. E isso me ocorreu de cara com o livro de Solha, como outras vezes diante de outros poemas de outros poetas. E talvez, sem maiores métodos, o leitor deva adentrá-lo dessa forma, não sei. Fruição e êxtase. Estejamos com o poema e que ele continue sua engenharia em nós. Assim seja.
SERVIÇO:
Marco do mundo
W.J. Solha
Editora Ideia
* Leia também O TECELÃO NILTO MACIEL
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Webston Moura [editor de Kaya] é poeta, autor de Encontros imprecisos: insinuações poéticas (Imprece, 2006). Mantém o blog Arcanos Grávidos.