Mas o drama que nos irmana
é que o homem pode até fazer o que quer,
como este poema,
uma ode,
mas
querer o que quer,
não
pode.
Pode ter
controle dos trens e troles da História, sem empecilhos,
mas não dos trilhos
[...]
* * *
[machinamentum humani]
Mas o que,
então,
antes que tudo nos tomem,
é o homem?
[...]
Carnívoro lento,
frágil e comestível,
é,
entretanto,
apto e terrível quando enfrenta os demais
animais,
fortes, alados, ágeis,
mas mentecaptos.
Supera todo tipo de geringonça,
de serpente a escorpião,
de tubarão a onça,
e tem sob certo controle a própria
animalidade e a
da prole,
de
modo que até a supercopulação que pratica
oculta,
mesmo
quando a superpopulação se avulta
mas
sabe,
porque
tem a mente a zelar,
que,
como
disse Teillhard,
pra pensar é
preciso comer,
e,
pra
comer,
matar,
daí que a regra de ouro de sua
humanização é
terceirizar o massacre - com ares de
quacre - pro
W. J. SOLHA [1941] nasceu em Sorocaba-SP, tendo, desde 1962, se radicado em João Pessoa-PB. É autor de vasta e premiada obra literária: Prêmio Fernando Chinaglia (1974), Prêmio INL (1988), Prêmio João Cabral de Melo Neto (UBE, 2005), Prêmio Graciliano Ramos (UBE, 2006), entre outros. É também autor teatral, ator e artista plástico. No cinema, participou, dentre outros, dos filmes: O salário da morte (1971); A canga (2001); Bezerra de Menezes: o diário de um espírito (2008), O som ao redor (2012); Era uma vez eu, Verônica (2012 – prêmio de melhor ator coadjuvante do Festival de Brasília/2012). Publicou, dentre outras obras: [prosa] Israel Rêmora (Record, 1975); A Canga (Moderna, 1978; Mercado Aberto, 1984); A Verdadeira História de Jesus (Ática, 1979); A Batalha de Oliveiros (Itatiaia, 1989); História Universal da Angústia (Bertand, 2005); Relato de Prócula (A Girafa, 2009) [poesia] Trigal com Corvos (Palimage-Imprell, 2004); Marco do Mundo (Ideia, 2012); Esse é o Homem (Ideia, 2013).