A quem
causa mais dano a perda de
alguém? Seria a saudade
um lenitivo
ou uma tortura?
Quem não
teve tempo suficiente
para conviver
com alguém
que partiu perde, pelo
fato de não
ter lembranças
a que recorrer,
ou ganha,
por não
ter de lidar com a dolorosa face da saudade?
Felizes os que têm
a lembrança, dirão aqueles
para quem as fotografias não
passam de imagens estáticas
daqueles que um
dia se moveram. Não
interpelam retratos em
busca de respostas
que jamais
chegarão.
Felizes os que são livres da saudade, replicarão decerto
aqueles para quem as imagens
possuem o mesmo perfume,
o mesmo sabor,
os mesmos sons
do momento em
que foram produzidas e eternizadas. Aprisionadas
em porta-retratos,
são criaturas
enjauladas que jamais
enxergarão a luz da liberdade.
Vagam, por entre
molduras, refletindo a incongruência
entre o instantâneo
e a eternidade.
Felizes, talvez,
sejam estes que
são objeto
de saudade. Por
objetos serem, dependem da
transitividade que lhes
seja concedida. São amados,
odiados, lembrados. Tristes
são os sujeitos
que os evocam. Tornam-se simples, às vezes
ocultos, indeterminados, até, mas sempre em busca de um predicativo que
lhes dê
razão ao sentir.
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* ROTINA [Tatiana Alves]
Tatiana Alves vive no Rio de Janeiro, cidade onde nasceu. É doutora em Letras e leciona Literatura. Recebeu mais de 350 premiações em concursos literários e participou de cerca de 300 coletâneas. É autora das obras: O legado de Cronos [contos, 2005]; D’Além mar: estudos de literatura portuguesa [crítica literário, 2008]; Harpoesia [poesia, 2009]; Silulacrum [contos, 2010]; Festim [contos, 2011]; Além do arco-íris [infantil, 2011]; Sem fantasia [crônicas, 2012].