segunda-feira, 22 de junho de 2015

FANTASMAS [Tatiana Alves]


Folha seca – Ernani Kern


A quem causa mais dano a perda de alguém? Seria a saudade um lenitivo ou uma tortura? Quem não teve tempo suficiente para conviver com alguém que partiu perde, pelo fato de não ter lembranças a que recorrer, ou ganha, por não ter de lidar com a dolorosa face da saudade?

Felizes os que têm a lembrança, dirão aqueles para quem as fotografias não passam de imagens estáticas daqueles que um dia se moveram. Não interpelam retratos em busca de respostas que jamais chegarão.

Felizes os que são livres da saudade, replicarão decerto aqueles para quem as imagens possuem o mesmo perfume, o mesmo sabor, os mesmos sons do momento em que foram produzidas e eternizadas. Aprisionadas em porta-retratos, são criaturas enjauladas que jamais enxergarão a luz da liberdade. Vagam, por entre molduras, refletindo a incongruência entre o instantâneo e a eternidade.

Felizes, talvez, sejam estes que são objeto de saudade. Por objetos serem, dependem da transitividade que lhes seja concedida. São amados, odiados, lembrados. Tristes são os sujeitos que os evocam. Tornam-se simples, às vezes ocultos, indeterminados, até, mas sempre em busca de um predicativo que lhes razão ao sentir.


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Tatiana Alves vive no Rio de Janeiro, cidade onde nasceu. É doutora em Letras e leciona Literatura. Recebeu mais de 350 premiações em concursos literários e participou de cerca de 300 coletâneas. É autora das obras: O legado de Cronos [contos, 2005]; D’Além mar: estudos de literatura portuguesa [crítica literário, 2008]; Harpoesia [poesia, 2009]; Silulacrum [contos, 2010]; Festim [contos, 2011]; Além do arco-íris [infantil, 2011]; Sem fantasia [crônicas, 2012].

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