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Malala Yousafzai, ativista paquistanesa conhecida principalmente pela defesa dos direitos humanos das mulheres e do acesso à educação na sua região natal do vale do Swat na província de Khyber Pakhtunkhwa, no nordeste do Paquistão |
"Falo para que os que não têm voz possam ser ouvidos"
[Malala Yousafzai (jovem paquistanesa,
atingida a tiros na cabeça por talibãs num
ônibus escolar em outubro de 2012), em
discurso no plenário das Nações Unidas,
em julho de 2013]
atingida a tiros na cabeça por talibãs num
ônibus escolar em outubro de 2012), em
discurso no plenário das Nações Unidas,
em julho de 2013]
I. ARGUMENTAÇÃO DOS
PUROS
A
poesia não é vida.
Seus
ossos, sua tenra carne, suas ligaduras
são
metáforas,
pensamento que
a nomes de coisas se agarram
para existirem –
obra
de “movimentos milagrosos de míseras
vogais e consoantes,
nada mais que isso”.[*]
A
poesia é palavra e só.
E
a palavra é convenção e não mais.
Puro
signo
no
reino puro da linguagem.
Eis
tudo.
II. A FALA DOS IMPUROS
Não.
Não
eis tão límpido tudo,
tão
raso ao rés da pura ciência,
disto
lembrai, ó sábios.
A
palavra, convenção só,
é
mais.
Lembrai
sua nascitura,
sua
muscular explosão,
seu
fazer-se percorrendo as carnes da boca
(que
dêem os doutos o nome
a
essa engenharia,
a
cada músculo-fibra aí operador;
isto não o sei);
lembrai
sua inaudita viagem
da
cinza matéria,
dos
compostos nervosos,
das
células-deus da cabeça,
até
ganhar o ar do mundo,
alta e
sonora,
e
aí mesmo findar
(justo mesmo
no
seu principiar a existir)
e
aí persistir,
todavia.
É
na impureza do vasto mundo
que
a pura ideia
(convenção só e não mais,
coisa alheia ao ordinário reino do existir)
se
torna coisa da vida.
Como
a fala de alguém que não tem voz
e,
não obstante,
nos
estremece os ouvidos.
[*] Herberto Helder, in Servidões,
p. 62]
* * *
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# LEIA TAMBÉM:
DÉRCIO BRAÚNA [1979], escrevente de coisas sentintes, é filho das terras cearenses de Limoeiro do Norte, cria de um pequeno lugar chamado Córrego de Areia, onde mãos amanham barro, cultivam o agridoce e espinhoso sumo para sustendo de suas necessidades, lavram a terra e a vida. Leitor tardio, é ainda faminto desse ato de fazer conversar pensamentos, imaginações. Apaixonou-se, já há tempo, por outras águas e terras, por outros olhares sobre o viver, por outras "imaginografias" (africanas, moçambicanas), sobre as quais tem andado a debruçar-se. Deu escritura a sentires e pensares: [poesia] O pensador do jardim dos ossos (Expressão Gráfica, 2005), A selvagem língua do coração das coisas (Realce editora, 2006), Metal sem húmus (7Letras, 2008), A ARIDEZ LAVRADA PELA CARNE DISTO (Confraria do Vento, 2015); [contos] Como um cão que sonha a noite só (7Letras, 2010); [história] Uma nação entre dois mundos: questões pós-coloniais moçambicanas na obra de Mia Couto, Nyumba-Kaya - Mia Couto e a delicada escrevência da Nação Moçambicana (Alameda Editorial, 2014). Consumido por sua paixão, segue remoendo na reflexão os fios que cruzam, os nós que emaranham a literatura e a história, sobretudo nos ditos tempos e espaços pós-coloniais. Segue também escrevinhando, espiando seu tempo, fabricando a ordinária e necessária vida que temos. Dos tantos dizeres que hão sido ditos, gosta de partilhar estes dois: 1) "A escrita não pode esquecer a infelicidade de onde vem a sua necessidade", este de um pensador francês (Michel de Certeau de seu nome); 2) "O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer", este duma camponesa portuguesa analfabeta (Josefa Caixinha de seu nome, avó de um senhor escrevente, de nome José Saramago). Quiçá estes gostos que tem ajudem a compreender porque entenda que escrever é desassosegar. Seu website é este [http://www.derciobrauna.com/] e seu perfil no Facebook é este [https://pt-br.facebook.com/kayarevistaliteraria].