foram prantear os inocentes mortos
na cidade em ruínas
choram pelos cães
abatidos por mãos que julgavam humanas
choram pelos homens / feras embrutecidas
pela ausência de compaixão
choram por seu Deus exilado dos homens
atônitos / observam as trevas
que se aproximam
/ é tarde / rapidamente / o sol / declina /
choram pelo fim da esperança
. . . . . .. . . . . . . . . e já não sabem mais cantar
#
a voz antiga me ronda / quer voltar
na cidade em ruínas
choram pelos cães
abatidos por mãos que julgavam humanas
choram pelos homens / feras embrutecidas
pela ausência de compaixão
choram por seu Deus exilado dos homens
atônitos / observam as trevas
que se aproximam
/ é tarde / rapidamente / o sol / declina /
choram pelo fim da esperança
. . . . . .. . . . . . . . . e já não sabem mais cantar
#
a voz antiga me ronda / quer voltar
mas não sabe cantar essa voz então se arrasta
lenta / pesada / triste
carrega memórias e esquecimentos
lamúrias e dores e gritos
ancestrais
e diz de campos de flores e trigo
que já secaram
embarques / chegadas / partidas
em trens e navios agora fantasmas
de mares e rios que transbordaram e estradas
e trilhos cobertos de árvores de cipós
o pó do
dias embaçou os olhos
e a voz
se perdeu
entre ruído e música que insistem
em perturbar o tom e o ritmo
original
dissonante poema que oscila entre o que não foi
e o que se perdeu no caminho
#
permeio entre mundos - e sub
deixo pedaços de mim por todo canto
trago pedaços de outros tantos
do mundo das formigas
trago a terra na costas
do mundo das estrelas
o brilho nos olhos
do submundo o medo, a nóia, a faca
no meu pequeno mundo
cabe um universo
onde em cacos me perco e me refaço
#
às vezes penso que tudo já foi dito
— me calo
sempre tão breve meu silêncio
o tempo exato de um espanto
ou de um espasmo
o tempo de qualquer existir
ou extinguir
o tempo aflito do estalo da língua
no céu da boca
o tempo do sentir — [...o tempo
— me calo
sempre tão breve meu silêncio
o tempo exato de um espanto
ou de um espasmo
o tempo de qualquer existir
ou extinguir
o tempo aflito do estalo da língua
no céu da boca
o tempo do sentir — [...o tempo
#
os olhos da noite estão
vermelhos
cabelos embaraçados
a pele fria
a noite
é uma velha senhora
que caminha descalça
sobre folhas secas
[na ilusão do silêncio]
#
todas as vozes que um dia julguei
vindas do céu
vinham de dentro
de mim
julgo então não haver céu — ou
eu o contenho
................................
# LEIA TAMBÉM:
* A LUMINOSIDADE DO ESCURO [Tânia Du Bois]
* MOSAICO DE RUÍNAS [Tânia Du Bois]
* TRIGAL COM CORVOS [breves excertos] [W.J. Solha]
* ESSE É O HOMEM [breves excertos] (W.J. Solha)
* OS HERÓIS [Conceição Lima]
* SÍNTESE [José Craveirinha]
* ÁRIDOS EM NÓS MESMOS [Webston Moura]
* VENTURA [Webston Moura]
* Redenção [Iara Maria Carvalho]
* E SE AMANHÃ A SOLIDÃO (ou A triste e inaudita história de Ludovica Fernandes Mano) (Dércio Braúna)
___________________
NYDIA BONETTI [1958] - engenheira
civil, nasceu em Piracaia,
interior de São Paulo, onde reside. Mantém o blog L o n g i t u d e s - (http://nydiabonetti.blogspot.com).
Colaboradora na Revista
Mallarmargens [Clique AQUI].
Tem poemas publicados em
diversas revistas e sites literários e culturais: Revista Zunái, Portal
Cronópios, Musa Rara, Eutomia – Revista de Literatura e Linguística, Germina
Literatura, e outras. Fez parte da coletânea QASAÊD ILA FALASTIN (Poemas para a
Palestina), Selo ZUNAI (clique AQUI) e da Antologia
Digital Vinagre - Uma antologia dos poetas neobarrocos. Publicada em
2012, pela Coleção Poesia Viva, do Centro Cultural São Paulo, na antologia Desvio para o vermelho (Treze
poetas brasileiros contemporâneos), organizada pela poeta Marceli Andresa
Becker. (http://goo.gl/sDIiC) Publicada
também em 2012 pelo Projeto Instante Estante, de incentivo à leitura, curadoria
de Sandra Santos, Castelinho Edições e na Poemantologia da
Revista Arraia PajéuBR, numa iniciativa conjunta com o Portal Cronópios. Lançou seu primeiro livro – SUMI-Ê, em janeiro 2014. * https://www.facebook.com/nydia.bonetti / nydiabonetti@bol.com.br.